sorry folks: u forgot tha say 'please'
voltaremos quando vos for mais inconveniente

" desististe da bd ou a bd desistiu de ti? "

introdução à filosofia da banda desenhada

Uma imperial entornada em cima do livro do Kevin Cannon obriga-nos a adiar o cruzar de leituras. André Oliveira e Xico Santos 2015, David Soares e Sónia Oliveira 2015, Filipe Abranches 2006 já esperaram uns anos, aguentam mais um par de dias.

Chegados de mais uma incursão pela feira do livro de LX e a ponderar se talvez possamos dispensar viagem por outras feiras de fim-de-semana, um email a precisar de resposta. Essa:

Perdemos-te para o Isabelismo tardio: muito estóico da tua parte, mas, deves imaginar, pessoalmente mais perto dos cínicos. O Isabelismo é um bom passo intermédio para desentrapar pretensões à banda desenhada, mas confundes com fim-de-história. Quando interiorizas esse passo, acabam-se os constrangimentos, podes usar essa liberdade para não desenhar, ou podes desenhar por gosto. Devias reconsiderar o fazer BD. Já lê-las é overrated.
in Real Nós 3 jun 2018

Da anterior troca de palavras com quem deixou os cómicos a pasto vai para uns anos – e na esperança que um dia volte às lides -, a necessidade de expandir sobre o tópico. Filosofemos então, voltemos ao Aristóteles:


não vamos transcrever o texto da foto: faz zoom, arranja um computador, ou segue para o próximo excerto

Até Aristóteles, os filósofos gregos, embora lamentassem alguma coisa, não se sentiam cosmicamente desesperados nem politicamente impotentes. Podiam às vezes pertencer a uma fracção batida, mas a derrota era um caso de conflito, não uma inevitável impotência do sábio. (...) Já não perguntavam: como pode um homem criar um bom Estado? Perguntavam antes: como pode um homem ser virtuoso em mundo perverso ou feliz em mundo em sofrimento? (...) A concepção dos que pensavam e sentiam seriamente tornou-se progressivamente mais subjetiva e individualista. (...) Por isso os filósofos do período helenístico eram mais limitados como seres humanos do que os do tempo em que a cidade-estado podia ainda inspirar devoção. Pensavam ainda, porque era inevitável; mas mal esperavam que o seu pensamento desse fruto no mundo da acção.
Bertand Russel in "História da Filosofia Ocidental"

Ao contrários dos helénicos -

Aristóteles é o último filosofo grego que se compraz em defrontar o mundo; depois dele, em qualquer forma, vemos uma filosofia de abandono. O mundo é mau. Aprendamos a ser independentes dele. (...) Foi um apelo aos homens cansados, a quem a desilusão destruíra a alegria natural. (...) Tal doutrina não impulsionava a arte, a ciência ou a política, ou qualquer actividade útil, excepto a de protesto contra o poderoso mal.
Bertand Russel in "História da Filosofia Ocidental"

- protestamos, sem receio de confronto. Reconhecemos o abandono da banda desenhada que atrás nos replicam, mas essa decepção com os comics é parte da sua natureza. Citamos de um dos senhores do costume, com razões para não os desenhar mais, mas também porque não o poderíamos deixar de fazer:

The curse of comics as the lowest art is basically why I became a cartoonist. If the world we exist in today is the one I fell into, I would never have gone into this racket. I didn’t want to be a writer, and I didn’t want to be a painter. And the fact that you could fly below the radar and be left alone was an important aspect of being a cartoonist for me.
Art Spiegelman in "What the %$#! Happened to Comics?” 19 maio 2012

Os comics como the lowest art uma maldição - mas só se não os abraças nessa condição.

aos miúdos do amanhã