sorry folks: u forgot tha say 'please'
voltaremos quando vos for mais inconveniente

scene report

Journal for the Advancement of Portuguese Comics 2010-present, Winter, 2011, Issue 2

NOT MAKING A SCENE

Scene Report 2011

You and yo mamma Independent Scholar



Por força do hábito que a conformidade à realidade obriga, somos por vezes tentados a conceber o plangente pântano da banda desenhada nacional através de uma falsa construção de fumos e espelhos, de insustentável virtude e mais célere desmentido se à aparência do insinuado se persistir na nua prova dos factos. Mas na impossibilidade de encontrar real valor no objecto em mãos, a afectividade que lhes emprestamos encarrega-se de fazer sonhar sobre as suas capacidades, dissimulando o que é pelo que talvez possa parecer ser.

Buscamos amanhar dos defeitos mais valias, das falhas particularidades, das insuficiências validação, do desmérito a consagração. Contrafaçamos a verdade sob uma deformação que não a nega, mas empata-a tempo suficiente debaixo do véu do convencimento subjectivo onde a asquerosa circunstância se poderá refugiar por mais alguns momentos, enquanto esperamos pelo profético regresso, numa noite de nevoeiro, dum D. Sebastião da BD, quer seja na versão spandex  e visão raio-x, ou mais dado a orientalismos mangá (se em lugar da aranha radioactiva a fatídica mordidela seja cumprida pelo bichinho das viagens, obrigando o retorno do norte de África a terras lusas por mares do Japão, que em parte justificaria o atraso do sócio).
 
Esse exercício de transfiguração deve em igual porções a sua génese ao acto de nostalgia de uma era que nunca existiu, e à idêntica falácia do seu outro progenitor, a idealização de uma arte que ainda não o é.

Percebidos através destas lentes, munidos de  alguma teima e ânsia de acreditar, a pujança do crer permite-nos o conforto da caridosa mentira que de contínuo enuncio: por todos os seus defeitos e insuficiências, nostalgicamente idealizada, a bd nacional é, no turbilhão de ideias, formatos e géneros que noutros mercados se revolvem furiosamente, um tranquilo lago de águas límpidas e azuis turquesas 1.

Qual Barton Fink fixado na moldura da parede, também nós nos delonguemos pois em silêncio com a quimera de tal imagem.


1Atribuímos a translucidez da água à sua incapacidade de suster qualquer forma de vida  além de umas poucas algas e outros organismos microscópicos. Se no fundo deste lago, de resto, pouco profundo, algumas combinações celulares arriscam a sua evolução, tal grau de  actividade passaria despercebida até ao mais aferro discípulo de Darwin que nessa direcção calhasse a apontar microscópio. Ou, analogia à parte, caso personalidade alguma enumerasse as 1000 bandas desenhadas a ler neste mundo, à nossa estima provavelmente seria necessário adendar o título do livro para 1000 e 1. Quanto ao azul turquesa, podemos supor que a coloração deriva de alguns daqueles que frequentam tais águas, obviamente sangues puros de tal famigerada descendência real que sustenta orgulhosamente o estandarte da banda desenhada nacional, únicos verdadeiros representantes desse pavilhão e exclusivos dignitários de elevar tal bandeira. Frequentadores assíduos que raramente se arrisquem a banhos, optam por ocupar com cerimoniosa poupa e circunstância, com as suas cadeirinhas desdobráveis de campistas, posições na margem do lago onde por um acordo intangível que entre si, reconhecem e respeitam os espaços uns dos outros, acordo tácito de não agressão que nada deve ao mérito de cada um, mas meramente o desfecho de anos de movimentações subtis ou de manifestas inconveniências, sempre na procura do melhor sol ou da melhor sombra, conforme o gosto, e na justa medida em que suportam entre si o lugar que cabe a cada qual.  Estes fenomenais adversários na contenda pela apropriação de espaço público são no entretanto extraordinariamente convenientes aliados quando ao longe se achega uma nova cara com uma cadeira debaixo do braço.

Indiferentes a estas movimentações que diligentemente vedam o acesso ao lago lançam-se sonoramente carreiras de catraios todos os anos para a água, os seus principais e mais barulhentos banhistas. Domínio infanto-juvenil, a supramencionada profundidade do lago (ie, ausência dela) torna-o ideal para crianças, reconfortando-se os seus pais na segurança que a superficialidade das suas águas transparentemente inócuas proporciona. Não devemos pois estranhar as bóias coloridas, as pranchas de supermercado ou os barcos insufláveis, toda a parafernália descartável que flutua à tona da água, tralha diversa que invariavelmente os fedelhos consigo acarretam. É o ovo e galinha dos quadradinhos:  são as crianças a razão de infestação da última franchise americana da moda, ou é esta última que aqui as segura?

Ausente entre estas duas gerações estão os jovens adultos. Este não é um lago sexy para eles. Quem gosta de nadar procura condições preferíveis em piscinas de competição por outras paragens. Outros há que perfazem o caminho inverso: nas bocas do forrobodó fala-se hoje de um português e de um argentino que descobriram o lago de passagem e o descreveram como “incrível” e “extraordinário” e tentam mesmo amestrar um equídeo preto a beber desta água. Santos da casa e milagres, mas este lago não é ainda local de engate.

Na sua ausência, os virtuosos das margens, de merendinhas, ficam mais convencidos do seu mando moral quais guardiões do lago, o seu juízo turvado com noções românticas do antigamente, cada vez mais conservadores na ortodoxia da topologia desta massa de água que, embora fluida por natureza, se arrisca a ser descrita como maciço sólido inerte se reduzida às concepção dos seus auto proclamados senhores. Já as crianças vêm, divertem-se, e vão-se embora para não regressar no próximo verão. O ciclo repete-se, a distância entre os dois grupos aumenta, a coabitação melhora: os habitués suportam a criançada arrivista convictos da sua condição passageira, não lhe negando inclusive o importante papel de impedir os sedimentos de secar o lago, os teenagers ignoram monumentalmente os senhores à margem. (Os vendedores ambulantes sabem que os velhos das margens não lhes mercam peva que justifique o esforço, mas para chegar às crianças têm que franquear as rancorosas carcaças que açambarcaram os melhores lugares ao pé da água – se bem que, como já o aludimos, excepcionalmente entrem nesta ou mais lá façam que molhar os seus pezinhos, mas ditosamente que assim o é: poucos cenários serão mais desconfortáveis de fitar que uma senioridade ensaiar o mesmo ou maior entusiasmo por algo com que unicamente uma criança se consegue relacionar, investindo lago a dentro como se oitenta fossem oito, como se não destoasse um adulto pavonear as suas figurinhas de colecção… -, optando ora entre fingir que ignoram os seus protestos enquanto resolutamente avançam pelas suas toalhas acima, ora caridosamente pedindo com sua licença se faz o favor. Os senhores da margem abominam a interrupção do seu granjeado ócio, mas adoram a falsa reverência do vendedor que os faz experimentar sentimentos de utilidade. E, excepção faz a regra, de quando em vez lá compram um geladinho belga com duas bolas de sabor, uma de tin, a outra de tin).

Agora que respeitamos a excepções, outras há, de tempos a tempos um ou outro bem intencionado espírito tenta tornar esta massa aquática mais interessante. Recentemente, ali para os lados do CCB, já cuidaram de amostrar que estas águas afinal têm uma amplíssima qualidade mineral. É um twist. Noutra Zona e por iniciativa própria alguns instalam pranchas e trampolins e o convidam a quem os quiser usar. Outras descontinuidades no quotidiano se causam regularmente, como a insistente romaria em torno das festividades que periodicamente levantam barraca, com comes e bebes e assaz festim de muito folclore, exposições e alguns convidados, catálogos a horas ou fora delas, embora ainda outros prefiram comemorar em festividades de mais pequena escala onde o toque é de marcha duzentos km interior a dentro na promessa de uma jantarada entre amigos e caras conhecidas, mesmo que a enchente seja apenas no primeiro de todos os dia programados e nos restantes não se afronte mais pessoas que a densidade populacional de um monte além Tejo. Má sina ambas as barracas dispersarem demasiado as suas mesas não agregando além dos convivas habituais. É a festa possível e são as excepções, o dia-a-dia faz-se a farnel que cada qual trás de casa ou passa fome.

Comin’ soon: quem faz bd excepcionalmente escreve sobre ela, quem não a faz muito nos tem a dizer sobre o assunto, não os poderíamos calar se quiséssemos. Acrescentámos ao quem sabe fazer, faz, quem não sabe, ensina, o mais recente quem não sabe ensinar, notícia sobre. O que não faz mal, it’s all good. Excepto se te esqueces da diferença.



The following table contains the side by side translation of the comix scene report, for all of you dumbasses that can read shit for sure. Godspeed.
Por força do hábito que a conformidade à realidade obriga, somos por vezes tentados a conceber o plangente pântano da banda desenhada nacional através de uma falsa construção de fumos e espelhos, de insustentável virtude e mais célere desmentido se à aparência do insinuado se persistir na nua prova dos factos.  
Yep, that time again. The comix scene's still crap. Wish it would be better this time around. Wishfull thinking wont make it so.
Mas na impossibilidade de encontrar real valor no objecto em mãos, a afectividade que lhes emprestamos encarrega-se de fazer sonhar sobre as suas capacidades, dissimulando o que é pelo que talvez possa parecer ser. 
Yep. Crap. Fuck it, let's pretend it's not.
Buscamos amanhar dos defeitos mais valias, das falhas particularidades, das insuficiências validação, do desmérito a consagração. 
That's not a shitty comix, no, it's art. And that's definitively not the worst story I ever read, no, that's like, dunno, way before it's time and stuff. Yes, let's go with that.
Contrafaçamos a verdade sob uma deformação que não a nega, mas empata-a tempo suficiente debaixo do véu do convencimento subjectivo onde a asquerosa circunstância se poderá refugiar por mais alguns momentos, 
Really, let's go with that, let's all just pretend, dudes!
enquanto esperamos pelo profético regresso, numa noite de nevoeiro, dum D. Sebastião da BD,
--ah, I got notthing here...
quer seja na versão spandex  e visão raio-x, ou mais dado a orientalismos mangá 
People are really into the superhero shit and those books you read backwards.
(se em lugar da aranha radioactiva a fatídica mordidela seja cumprida pelo bichinho das viagens, obrigando o retorno do norte de África a terras lusas por mares do Japão, que em parte justificaria o atraso do sócio). 
--- now that's just plain silly!
Esse exercício de transfiguração deve em igual porções a sua génese ao acto de nostalgia de uma era que nunca existiu, e à idêntica falácia do seu outro progenitor, a idealização de uma arte que ainda não o é. 
We all know the one and only comix worth reading are that old geezers shit and/or arty crap anyway.
Percebidos através destas lentes, munidos de alguma teima e ânsia de acreditar, a pujança do crer permite-nos o conforto da caridosa mentira que de contínuo enuncio:
Close your eyes really hard and say "there's no place like home" three times.
por todos os seus defeitos e insuficiências, nostalgicamente idealizada,
"Portuguese comix are just fine and dandy yes sir"
a bd nacional é, no turbilhão de ideias, formatos e géneros que noutros mercados se revolvem furiosamente, um tranquilo lago de águas límpidas e azuis turquesas 
Scene report's conclusion: there's really nothing to report.
Qual Barton Fink fixado na moldura da parede, também nós nos delonguemos pois em silêncio com a quimera de tal imagem. 
Fuck it, let's just blow our brains already or jump out of a window. This shit is whack.

"Hey! E a nota de rodapé é bué maior que o report em si!" Faz-nos pensar que mais ficou de fora na história oficial da BD: afinal não és tão dumbass se chegaste lá sózinho. Se calhar já lias de novo o report.

Estado da Arte II