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voltaremos quando vos for mais inconveniente

renascer

A explorar novas ideias e novas técnicas...

Entre viagens e aproveitando o touch down à base temos tempo apenas para um debitar de data em jeito de (fast) food for thought aos que querem alguma substância alternativa nas suas dietas da silly season. Como dissemos antes, fazemo-nos acompanhar por estes dias de leitura do Post-Capitalism do Marco Fixe - não confundir com o Outro- um outro "calhamaço que nada tem a ver para limpar ideias" -mesmo se imediatamente reconhecemos paralelos aos tópicos habituais- e, guess what? Um dia depois de reputado crítico publicar a primeira das suas revisões históricas com o #33 da sua lista de "My 33 Favorite Comics" 10 ago 2017, também nós olhamos para trás e notamos demasiadas sobreposições a confrontar.

Do Renascimento: não se limitou a um regresso ao passado, mas desse reconhecer o mérito e desenvolver novas ideias adaptadas ao seu presente. Sigamos a sugestão, webcomics et punk, banda desenhada e o digital, com uma agenda.

I

Comecemos pela BD ainda se não o seja evidente -afinal estamos a alguns séculos da conhecer na sua forma actual. Arte, então. Cruzado à técnica, particularmente à evolução desta -e desconte-se se não reconhecem nesta qualquer parecença com o digital: afinal, também então a alguns séculos por vir. Do desenvolvimento técnico, então: do actual à época. A constatação que ainda hoje separa os nossos artistas da web, e de como precisamos de um novo Renascimento hoje:

A nossa época tem tendência para opor arte e técnica, mas nem sempre foi assim. Talvez nunca o seu diálogo tenha sido tão fecundo como no tempo do Renascimento.

Renascimento contemporâneo que todos os indícios acusam estar em movimento. Fora os nossos artsys locais que ignoram monumentalmente a técnica por excelência do seu tempo e se algo volta-e-meia os encavalita são ainda processos de impressão contemporâneos a um Gutemberg, lá fora cada vez mais se impõe o digital -acanhados ainda assim pela imensidade das possibilidades e inexistência de cânones que os torna difíceis de identificar. Mas hoje como então as possibilidades são imensas e já demasiado óbvias para se negarem. Das nossas considerações ao papel vs digital cruzado ao empowerment do punk e a sua relação à obra, bitmitização e autenticidade, e do Renascimento - destaques nossos:

A época do Renascimento não se contentou em distribuir aos homens do Ocidente milhões de livros impressos; também difundiu de forma muito vasta reproduções de obras de arte, provocando assim uma verdadeira mutação estética na Europa e uma profunda transformação das relações entre o artista e o seu público.

A troca informada de algumas palavras-chave na frase anterior devolve-nos ao presente. Do passado, o autor exemplifica esses desenvolvimentos na comparação da gravação em xilografia de relevo, um processo herdado da Idade Média (*).

* Idade Média: aquele período de tempo que várias gerações da Humanidade experienciaram como imutável e eterno, e cujos hábitos, regras e privilégios -e, no seu oposto, a sujeição aos desejos dos seus senhores- eram afinal apenas uma maquinação das elites instaladas. Hint, hint.

Processo algo limitado e inconveniente no qual talha-se a madeira, retira-se a parte a ficar em branco, deixa-se apenas as partes que recebem tinta que será depois impressa sobre a superfície, permitindo gravuras esquemáticas incapazes de produzir uma variedade de pormenores ou particularidades. De tiragens limitadas antes do modelo se tornar inutilizável quando a base é de madeira, se esta é metal torna-se demasiado resistente para o artista talhar. Either way, apenas se imprime o relevo. Enter the new ways com a "talha doce", uma gravura em baixo relevo sobre metal:

O novo processo consistia em gravar com buril o desenho em baixo relevo numa placa de cobre, sobre o qual se vertia tinta que depois era limpa. A folha de papel que se aplicava sobre a placa, através da prensagem, recebia a tinta nos entalhes do baixo relevo. As vantagens da talha doce relativamente à gravura em relevo eram consideráveis. O buril tanto podia riscar o metal para desenhar traços finos e complexos como escavá-lo amplamente. Os entalhes mais ou menos profundos recebiam diferentes densidades de tinta. Tornava-se assim possível traduzir as formas e subtilezas das obras pintadas.

O autor prossegue a descrição com o processo de "água-forte", onde o ácido nítrico substitui o buril e uma placa de cobre revestida com verniz resistente ao ácido é desbastada para permitir que a corrosão química revele a obra. O nosso take away é duplo: da inovação, dos benefícios dessa inovação, particularmente no papel -pun intended!- das imagens -BD!- para a Cultura. Ou, nas palavras do autor, à data:

A gravura conheceu então um sucesso extraordinário, e tornou-se um dos principais agentes de difusão de cultura.

Compreendam no contexto de uma época onde a cultura visual era muito mais relevante entre as massas analfabetas, comparem à importância da comunicação visual entre os iletrados de hoje escravos do seu telemóvel, e graças a estes de regresso a uma cultura oral, então também a mais predominante.

Cultura. Técnica. Renascer done right:

Na época do Renascimento, a vida do espírito beneficiou espectacularmente dos progressos técnicos. Estes engrandeceram a civilização do ocidente, fornecendo-lhe os meios para uma renovação espiritual e para o alargamento dos seus horizontes, dando-lhes também maior conforto material e alegria de viver.

II

Hoje. Técnica. $$$. Indissociável das big tech corp(orações): Facebook, Google, Amazon et al. Coincidências, o capítulo que se segue às considerações anteriores sobre arte e técnica?

"A técnica dos negócios". Curioso alinhamento de tópicos. E diz-nos o autor nesta obra originalmente impressa em 1984 - mais coincidências: olha o Orwell- que apesar dos avanços técnicos o Renascimento teve de lutar contra forças estagnadoras/conservadoras que limitavam o seu progresso. Uma delas,  "e não a menor":

Era constituída pelas corporações, nascidas (...) para regular horários de trabalho, definir a qualidade dos produtos, reprimir as fraudes, eliminar a concorrência (...) e manter o monopólio de uma minoria de patrões no mercado urbano.

Familiar a monopólios de corporações em século XXI? E melhora. O capítulo que se inicia sobre conflictos laborais que opõem patrões a trabalhadores na desagregação do sistema feudal com um rol de convulsões sociais e a sua repressão (*) -

* Parêntesis neste ponto. Além da óbvia perseguição judicial e respectivos esquartejamentos e/ou enforcamentos dos amotinados, entre outras causas para o fracasso desses movimentos conta-se:

  • Falta de coordenação;
  • "Os inevitáveis virar de casaca dos grandes burgueses quando se viam assolados pela arraia-miúda";
  • Falta de união;
  • Insuficiência numérica relativamente à população;

Devemos parar as comparações ao presente?

- continua por demonstrar como "príncipes e aristocratas" sentem eles próprios a necessidade controlar a crescente importância das corporações. Não os podendo suprimir porque se haviam tornado indispensáveis -hint! hint! ó ironia!- esvaziam-lhe o seu potencial político ainda que, no processo, lhes tenham compensado essa despromoção com uma maior autoridade em matérias económicas. De regresso à actualidade, até num ocidente de tradição democrática - deixamos de fora a mais longa tradição da Rússia e China nos domínios de ingerência alheia- os Estados veem-se a mãos com o problema de limitar o impacto político dos gigantes económicos. Circa dois ou três dias atrás, Axios:

Big tech, already facing billions in fines from European regulators, is an increasing target of both U.S. political parties. America's largely romantic view of its tech giants -Facebook, Google, Apple, Amazon, etc.- is turning abruptly into harsh scrutiny. Silicon Valley suddenly faces a much more intrusive hand from Washington.
in "Tech @ war with the world" 8 ago 2017

Entre outros factores de fricção:

  • Privacy;
  • Job-killing robots, automation and artificial intelligence;
  • Backlash over the mounting data trove about us: in many cases, we aren't the customer — we're the product;
  • Contribution to income inequality;
  • Astonishing concentration of wealth and power;
in "Tech @ war with the world" 8 ago 2017

III

A terminar estudos comparados, última nota às coincidências, ainda o $$$. O livro prossegue a explicar os artifícios financeiros das principais praças entre os séculos XIV e XVI, durante o qual surgem inúmeras variações de empréstimos disfarçados de seguros já que a usura era pecado mas aceitável pelos "canonistas" que "em certa medida, o risco merecia ser recompensado". Destes, às nossas teses:

Tal como o florescimento artístico, o desenvolvimento das técnicas bancárias deve ser considerado uma das características do Renascimento.

Livro de ‘84, repetimos, sobre um projecto apresentado ao senado de Veneza em 1356:

Como não se contentavam em transferir somas de uma conta para outra, mas empregavam também no comércio o dinheiro que lhes era confiado, os banqueiros corriam riscos e por vezes faliam. Dai o projecto (...) de instituir um banco púbico que exercesse o câmbio manual, comprasse metais preciosos por conta do Estado, recebesse depósitos e realizasse transferências de uma conta para a outra, mas que se abstivesse de operações comerciais.

Isto, vários séculos antes da crise de 2008. Senhores...?

Estes rapidamente se tornam tão sofisticados que é necessário o resto do capítulo para os explicar, sobre a designação de "especulações que se abrigam por detrás do câmbio". 

Ficam os excertos em toda a sua glória para uma compreensão pormenorizada - clica na imagem para aceder ao detalhe, mas de especulação por detrás de câmbio é outra daquelas sobreposições passado-presente-futuro que nos devolve à realidade de hoje. Se a explicação anterior te parece complexa, da Wired 2/3 dias atrás: Bitcoins.

Understanding of Bitcoin’s mechanics remains in short supply. Even the most enlighten laypeople treat Bitcoin and its relations like the ’here be monsters’ zones on antique maps. Weird shit is happening out there! But the intricacies of the system elude even insiders.
in "Bitcoin makes even smart people feel dumb" 9 ago 2017

Bitcoin and digital currencies are one wave of change that will alter how we understand money and how it is used within anda cross borders. With bitcoin or without, the world of money will not remain unscathed by the digital revolution.
in "Yes, Bitcoin Has No Intrinsic Value. Neither Does a $1 Bill" 9 ago 2017

Familiar? Familiar.

Aaaand it gets better. Capítulo seguinte?

Coincidências. E a lembrar-nos que estamos quase de volta, pós-cenas.

agora ainda mais barato