sorry folks: u forgot tha say 'please'
voltaremos quando vos for mais inconveniente

realismo capitalista 3

CAPÍTULO III:
“Capitalismo e o Real”

Tecidas algumas comparações à génese do conceito, Mark Fisher compreende o realismo capitalista além de funções análogas à arte ou à publicidade: descreve-o como uma atmosfera que tudo abarca condicionando a produção de cultura, regulação do trabalho, educação (*), e agindo como uma barreira invisível que constrange o pensamento e a acção.

* Se ainda precisavam de mais razões para elegermos o seu texto à nossa atenção, ai está um three-factor.

Diz-nos MF que a possibilidade de desafiar o capitalismo perante este render à impotência dos seus sujeitos não pode ser encontrada na crítica moral: o enfâse nas formas de sofrimento que causa apenas reforçam o realismo capitalista no qual a miséria é uma inevitabilidade da realidade, cujo contraponto de esperança em acabar com esse sofrimento é rapidamente retratado como um utopismo ingénuo. No seu lugar propõe uma outra abordagem, uma que desafia o capitalismo na frente pragmática e o expõe como fantasia artificial:

Capitalist realism can only be threatened if i tis shown to be in some ways inconsistent or untenable; if, that is to say, capitalism’s ostensible ‘realism’ turns out to be nothing of the sort.

E para essa separação de águas segue-se algum name droping & concept talkin’ a preparar terreno. Indicando do contexto os últimos 30 anos, diz-nos o autor que o realismo capitalista instalou uma lógica de ‘ontologia de negócios’ que torna evidente que tudo na sociedade deve ser gerido como um negócio – incluindo a saúde e educação, à qual Mark retornará com maior ponderação adiante. A prioridade é então o desmontar dessa evidência, citando a esse efeito de um vasto arsenal de teóricos radicais, de Brecht a Foucault a Badiou, que mantêm que qualquer política emancipatória deve sempre destruir a aparência de ‘ordem natural’ e expô-la como uma mera contingência em vez de uma inevitabilidade necessária, e demonstrar que o que parece impossível de alcançar é afinal realizável.

Ie, e regressando a Žižek sobre psicanalismos de Lacan, expôr a diferença entre o Real e a realidade, onde se define o primeiro como aquilo que o segundo tenta suprimir. Ainda connosco? Boa, this is about to get real. In short, realismo como processo mediato e ideológico que suprime o real, o real como episódio irrepresentável / vazio traumático que apenas pode ser vislumbrado nas facturas e inconsistências da realidade.

Exemplos.

Catástrofes ambientais. Long cite para efeitos de indexação de motores de pesquisa no assunto...:

Environmental catastrophe is one such Real. At one level (…) climate change and the threat of resource-depletion are not being repressed as much as incorporated into advertising and marketing. What this treatment of environmental catastrophes illustrate is the fantasy structure on which capitalist realism depends: a presupposition that the resources are infinite, that the earth itself is merely a husk which capital cant at a certain point slough off like a used skin, and that the problem can be solved by the market. (…) Yet, environmental catastrophe features in late capitalist culture only as a kind of simulacra, its real implications for capitalism too traumatic to be assimilated into the system. The significance of Green critiques is that they suggest that, far from being the only viable political-economic system, capitalism is in fact primed to destroy the entire human environment.

Exemplo #2: saúde mental. Se o exemplo anterior aponta directamente aos nossos cânones este agora é 100% Mark Fisher -com um historial e bibliografia que o acompanham- no qual faz um excelente caso da saúde mental como paradigmático do funcionamento inconsistente do capitalismo a separar real do seu suposto realismo. Contrariando o pressuposto base que as doenças mentais são do foro natural e pessoal – natural como o clima, pessoal como inerente e circunscrito às especificidades do indivíduo - e recuperando das teorias radicais da década de 60 e 70 – Laing, Foulcaut, Deleuze e Guattari et al – defende que as condições mentais extremas como a esquizofrenia nada têm de natural e devem ser entendidas numa categoria política. A saúde mental deve ser politizada, principalmente as mais comuns, justamente porque se tornam cada vez mais vulgares –propagadas-, e cada vez mais difíceis de justificar sem as entender diante de um quadro social exterior ao indivíduo. Com o exemplo da depressãoeee voltamos aOS POSITIVOS-, a condição mais tratada nos serviços de saúde do UK natal do autor, States e outros países, estabelece-se uma correlação entre o aumento de stress mental e o capitalismo neoliberal ocidental, que exigem um reenquadrar dos problemas de saúde entre as sociedades capitalistas: em vez de os tratar como casos isolados intrínsecos ao indivíduo, procurar fora deste as causas dessa condição. Uma que encontra picos e tendências crescentes em sincronia com o capitalismo, uma que é cada vez mais generalizada, e uma que afecta especialmente os mais jovens (*).

* Teens: estamos quase a chegar a vocês – mete um calmante e um pouco de paciência.

Why? Porque, como no exemplo anterior das crises ambientais, a ‘plague’ de saúde mental em sociedades capitalistas demonstra brechas real-realismo, sugere que em vez de ser o único sistema social que funciona, o capitalismo é inerentemente disfuncional e de custo operacional extremamente elevado em termos humanos – se, ie, o sofrimento de outros humanos não te fosse razão suficiente, mas dessa crítica moral vimos atrás.
 
Terceiro exemplo: burocracia. O neoliberalismo deveria ter acabado com a burocracia estalinista que acusava o sistema de planificação central estatal mas não o fez: piorou-a, privatizando-a e repartindo-a em inúmeras instâncias desconexas infinitamente mais frustantes. Pensem “call-center”, disseminado a todos serviços que tocam o quotidiano dos cidadãos, onde se segue um guião, impossível desviar desse, e onde nenhuma autoridade –ie, “responsabilidade”- se consegue convocar à resolução de problemas. Outra brecha no realismo capitalista ao qual voltaremos adiante.

Exemplo final em final de capítulo: educação. E, fazendo nossas as suas palavras:

I will draw extensively on my experiences there.

Fim cap.

ainda o "Vapor" de Max

realismo parte vi