sorry folks: u forgot tha say 'please'
voltaremos quando vos for mais inconveniente

realismo capitalista 4

CAPÍTULO IV:
"Impotência reflexiva, imobilização e comunismo liberal"

Derf in "Trashed"

Class war has continued to be fought, but only by one side: the wealthy.

Dois eixos neste chapter: imobilidade vs comunismo liberal - senão mesmo unidos numa frente de impotência.

Dos primeiros, começamos pelos teens no seu papel de aluno como principal manifestação: resignados ao seu destino por impotência reflexiva e não por apatia ou cinismo - eles compreendem as más perspectivas que o futuro lhes reserva e sabem que nada podem fazer em relação a essa fatalidade. Passo dois e twist principal: essa é uma profecia que se cumpre sozinha, a reflexão não é uma mera observação passiva mas um instrumento à sua concretização. Concluindo dos casos de depressão endémicos na Britânia e patologias correlacionadas que assolam a população e incidem em idades cada vez mais jovens, MF diz-nos que não será um exagero em breve reclassificar o ser-se teen como uma doença – acto que esvazia a sua possibilidade de politização já que o tenta circunscrever no domínio da saúde e lhe nega qualquer casualidade sistémica social.

MF descreve o ser-se jovem numa sociedade ocidental pós-capitalista como depressão hedónica: a inabilidade de conseguir fazer qualquer coisa que não a persecução de prazer - o teen é permanentemente assolado pela impressão que algo lhe falta, mas incapaz de conceber que esse algo possa ser alcançado além do princípio do prazer.

A contribuir para essa malformação (palavra nossa) é indissociável a posição estrutural ambígua do aluno, encalhado entre o seu antigo papel de sujeito à disciplina da autoridade e o seu novo status de consumidor de serviços. Um ‘Postscript on Societies of Control’ depois, com Deleuze a construir sobre Foucault, e somos introduzidos na distinção entre sociedades disciplinadoras que se organizam em espaços fechados e sociedades de controlo que dispensam essas instituições e dispersam-se em corporações que operam através de um adiamento contínuo (*).

* Educação como um contínuo para toda a vida, formação profissional enquanto capaz de trabalhar, "work you take home with you: working from home, homing from work".

Nesta sociedade de controlo a vigilância externa é exercida internamente, e o controlo apenas possível porque os implicados são seus cúmplices: trabalhadores vigiam trabalhadores. Expandindo além do teen MF exemplifica com os próprios docentes, igualmente encalhados entre o entertainer facilitador e a autoridade disciplinadora, pais suplentes para teens só minimamente socializados. De docências adiante, de controlo Deleuze também descreve esta sociedade como baseada num sistema de dívidas que encarceram os seus sujeitos em vez de barras de prisão menos metafóricas e aqui novamente devolvendo ao pessimismo dos teens:

Pay for your own exploitation, the logic insists- get into debt so you can get the same McJob you could have walked into if you’d left school at sixteen...

É aborrecido, convenhamos. To be bored então, ilustrado com comportamentos típicos em sala de aula. Confrontados com a leitura de um texto, o aborrecimento que assola o aluno não é o conteúdo deste mas o próprio acto de ler que o remove do contínuo de "sensation-stimulus matrix" do texting no telemóvel, do Youtube ou do fast-food – de ser negado, nem que por um instante, do fluxo constante de gratificação on-demand. Os headphones na aula são outro exemplo: a música que ouvem não é experienciada como algo que pode ter um impacto no espaço público, mas uma reserva de privacidade para o qual se recolhem, uma muralha contra o social.

Consequência da dependência ao entretenimento constante, o teen é nervoso, irrequieto, incapaz de se concentrar e agente de uma interpassividade (*) agitada.

* Torna-se mais interessante quando introduzirmos o big Other – não confundir com o Big Brother.

Interpassivity is a state of passivity in the presence of the potential of interactivity. The purpose of the concept is to "explain how works of art and media sometimes seem to provide for their own reception. The term was coined by Robert Pfaller and Slavoj Žižek, and combines the words "interactivity" and "passivity" (...) accounting for diverse cultural phenomena where delegation of consumption and enjoyment stands central.
in Wikipedia

E a deslizar eerily ao pós-modernismo de Jameson que proclamava a propósito da fragmentação da subjectividade na emergência do complexo industrial de entretenimento um eterno presente, que MF complementa com a descrição do teen como -

A generation born into that ahistorical, anti-mnemonic blip culture – a generation (...) for whom time has always come ready-cut into digital micro-slices.

‘Writing has never been capitalism’s thing. Capitalism is profoundly illiterate.’
Deleuze & Guattari in "Anti-Oedipus"

E a palavra "digital" não vos passou despercebida ali, certamente? A nós também não, particularmente aplicada no contexto da cultura: é a nossa deixa. Às nossas teses, o registo: digital, literacia, imagens.

Teenagers process capital’s image-dense data very effectiveky without the need to read – slogan recognition is sufficient to navigate the net-mobile magazine informational plane.

E stand-by nessa frente. Damos agora um salto ao segundo eixo enunciado no início: os comunistas liberais, aos quais MF chega por segway à diferença entre os estudantes britânicos – pávidos na sua sorte- e os franceses, muito mais reivindicativos e militantes. Ainda que, como Mark os define, a sua agitação não resulta de um desejo de mudança e sim de retorno. Antes então dos lib-commies, e para uma melhor compreensão destes, MF descreve-nos os herdeiros do maio de ’68, versão imobilizadores: os movimentos nostálgicos que pretendem um regresso ao estado social forte com uma intervenção activa do Estado.

Contraposto aos imobilizadores e reclamando-se igualmente herdeiros do mesmo mês de ’68 nas suas preocupações sociais, os comunistas liberais pretendem (pós)modernizar práticas de trabalho e emprego e empregam em espírito máximas como "being smart". Uma máxima que não podemos censurar de modo algum no plano teórico, mas Žižek trata de problematizar as suas assunções, descrevendo o epíteto de dinâmico e nómada contra uma burocracia centralizadora, na crença do diálogo e cooperação contra a autoridade central, flexibilidade contra rotina, cultura e conhecimento contra a produção industrial, interação espontânea contra hierarquia fixa. Again, nada a declarar não estivéssemos três capítulos dentro do Realismo Capitalista, à luz do qual a descrição anterior se posiciona a um arrebate por parte do Capitalismo, e poucas linhas adiante MF confirma-nos que o comunismo liberal é agora a ideologia prevalecente do capitalismo. Na sua urgência pelo novo,  adoptaram estratégias típicas do pós-capitalismo, ainda que neste os termos acima sejam sucintamente mais reconhecíveis como precariedade.

Portanto, sem alternativas, parece. Onde os imobilizadores implicitamente concedem que o capitalismo apenas pode ser resistido nunca vencido, essencialmente desejando o regresso a modelos Fordianos de capitalismo e um regime autoritário- e nunca é sexy pregar a resistência ao novo-, os comunistas liberais não podem fazer o caso pela alternativa apelando à mesma flexibilidade e descentralização com que o Capital erodiu o tecido social. A solução surge no desapropriar do novo ao capitalismo sem recorrer aos seus métodos e instrumentos conducentes à condição presente onde nos encontramos. De Badiou e David Harvey retoma-se a associação entre neoliberalismo e o termo restauração, associação a privilegiar para corrigir a ideia que o Capitalismo é o único sistema a potenciar o novo,  pretendendo-se deixar explícito que as políticas neoliberais apenas representam o regresso ao poder de classe e privilégio, projecto político para restabelecer as condições de acumulação de capital e o poder das elites.

Fim de capítulo. Uma para os teens -

♪ if you dont like the system put your middle finger up
♪ building a bigger school - blitzing these bastards

...mas queremos terminar com um extra, não sem alguma ironia e sátira da nossa parte, acrescentando algumas linhas com as poucas que nos restam, e correndo o risco de passar por um apontamento algo abstracto cremos que alguns dos que nos leem poderão esboçar um sorriso na sua leitura. Deleuze questionava-se a propósito de formas alternativas anti-controlo:

Can we already grasp the rough outlines of the coming forms, capable of threatening the joys of marketing? Many young people strangely boast of being "motivated"; they re-request apprenticeships and permanent training. It’s up to them to discover what they are being made to serve.

Ao que Mark acresce:

What must be discovered is a way out of the motivation / demotivation binary, so that disidentification from the control program registers as something other than dejected apathy.

Nesse departamento, way ahead of u folks.

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