sorry folks: u forgot tha say 'please'
voltaremos quando vos for mais inconveniente

desconstruindo, dizemos nós

Este é o mais recente de uma sequência de artigos de Tó Guerra com os quais não nos revemos. Custa-nos: gostamos de boa parte das suas crónicas. Mas ur only as good as ur last war + no sacred cows for tha ride: each one teach one e os teens ganham com o exemplo. Siga.

A propósito dum ex-acessor do ‘vózinho Cavaco, do qual não somos certamente suspeitos ou sujeitos a simpatias, diz-nos o Tó:

De todas as citações do livro do ex-assessor de Cavaco Silva, divulgadas pelos jornais, a mais surpreendente é a de que no final do mandato se “assistiu à desconstrução da figura de Cavaco Silva”

Destaque nosso. Parece que o problema foi a escolha da palavra. Porque...-

Parece a afirmação de um filósofo

Erro, portanto. O assessor mijou fora do penico: o homenzinho não devia ter-se ajeitado a fazer ares à coisa. Raspanete do Guerras:

Devemos concluir que Fernando Lima não faz a mínima ideia do que é tal coisa (...) e limitou-se a receber e difundir o eco de uma palavra que ganhou uma ressonância mundial e escapou completamente ao universo onde foi criada e ao seu criador, o filósofo francês Jacques Derrida, tendo-se tornado um extraordinário poncif, um lugar-comum.

E passamos a filosofia de ponta sobre a evolução da dita, do Derrida e seus ditos, com o lamento previsível:

A palavra “desconstrução” tornou-se uma praga sem controle.

... seguida de considerações sobre a vulgarização do conceito. E aqui é a vez do A-to-tha-G mijar fora do penico num tom demasiado pedante para não nos coçar da forma errada. Vocês sabem onde estamos no “vulgar” por oposição ao eruditismo de elite a dar no snob, e quando ele sugere ao ex-acessor que utilize no lugar de "desconstrução" -

"artefactualidade" ou mesmo "actuavirtualidade"

- estamos no reino do free for all. Em abono da verdade fá-lo cravando mais um prego naquele outro tema que nos atraiu para este autor em primeiro lugar, e fuck os media up tha arse:

para indicar que a actualidade jornalística é feita, activamente produzida e performativamente interpretada pelos dispositivos fictícios ou artificiais

Mas anyways,...

Mas não, em vez de usar este neologismo que devia fazer parte do vocabulário de qualquer assessor de imprensa, mostrou-se permeável ao credo pagão da famigerada “desconstrução”

Desconfiamos da naturalidade com que se pode pressupor que qualquer assessor de imprensa saque de um "artefactualidade ou mesmo actuavirtualidade" e quando sobre essa recomendação termina com mais uma variação do eterno clássico de sempre -

ele poderia ter aproveitado para ler alguns livros e artigos de Derrida

- temos um problema.

"Mas não, foi na onda da proliferação de uma palavra que até nos pode levar a pensar que Derrida, apesar de ser um “teórico abstruso”, é identificável de alguma maneira com aquilo a que já se chamou popsofia, ou seja, a filosofia pop."

E deus nos livre de pop(ularizar) um Derrida ou afins. A puxar do elitismo em contraponto ao pop e não estás mais a fazer amigos por estas bandas (desenhadas). Para que não hajam dúvidas, nas palavras do próprio:

Mas a razão de a palavra se ter tornado um poncif é outra, muito menos frívola. Devemos interpretá-la como um importante sintoma do nosso tempo: abunda a “desconstrução” porque houve um deslocamento ou um deslize para outra zona de um certo vocabulário outrora muito utilizado. Toda a gente “desconstrói” porque já ninguém critica, nem refuta, nem desmistifica, nem desmitifica.

‘Migo, não seja por isso. Passemos pois à desconstrução da erudição pela sua arqui-inimiga: a mais pop das culturas, os comics – para alguma merda eles têm que servir e qualquer outro exemplo mais fundamentado é-te chinês....

Caro teen que nos lês: alguma vez leste o Derrida? É, nós também, ele e muitos outros, e fizemo-lo com a mesma convicção que fizemos a nossa matemática: com a total segurança que nunca teria qualquer utilidade prática na nossa vida terminado o semestre. Mas lês comics? Exemplo então com este pequeno vídeo de um breve apanhado sobre lettering em comics do início do mês: passemos a criticar, refutando, desmitificando a mistificação que alguém possa ter o monopólio da verdade sobre algo que é naturalmente transiente: conceitos e particularmente termos e linguagem são constantemente reinventados e reutilizados e valem pelo uso que lhe dás.

"and maybe, even some of those superhero movie fans will notice it"

Dois momentos chave. Primeiro:

pratical conditions shape the artistry of the letters

E gradualmente o lettering evoluiu no sentido de

imitate a style that formed out of necessity

Ao ponto de um “style that is readable in cheap panel” baseado nas limitações do formato “shaped the style that emerged across the industry”:

all those constraints and choices created the handwritten style we recognize

Não falamos aqui só da evolução do lettering em si –nada permanece parado no tempo-, mas igualmente da sua distorção ao original:

but today to call it "handwriting" would be lying

A sua evolução ancorou-o no digital, o termo não podia estar mais despegado do seu conceito original. A ironia chega-vos? Segue e soma: digital, u say?

for a long time (...) there were a lot of technophobes in comics. There were a lot of people who dind't want to change. Those people have grown old and there are people in their 20s editing and designing comics now and they expect you to have every font

Os tempos mudam, os dinossauros morrem, os outros adaptam-se: a estagnação numa pureza original que nunca existiu e o respeito a uns quantos guardiões da ortodoxia merece-nos o desprezo.

Momento chave dois:

the idea of a "comic book font" is a mistake in the first place

the general public only really became aware of fonts with the rise of personal computers

we can see Helvetica, and Arial, and Futura because our computers have trained us to look for them. We notice them. We see these tiny differences

as technology allows for variety and ease of use, creativity continues to flourish - even if handwriting gets digitized

A tal da vulgarização tem as suas vantagens. Nunca, antes dos computadores, houve tantos tão preocupados com fonts. D.I.Y não quer dizer faz as tuas cores com terra do quintal e o teu papel com canas do jardim e quanto mais primitivo todo o processo mais genuíno. Isso deixa ao artsy-fartsy que ainda faz o lettering à pata. D.I.Y. quer dizer F-A-Z.

Resistência à mudança e a inevitabilidade da mesma, a massificação de usos a ponto de novos usos surgirem, os velhos senhores da razão sem mais razão alguma: alguma coisa aqui vos é novidade?

boogieman!