sorry folks: u forgot tha say 'please'
voltaremos quando vos for mais inconveniente

trolls!

(ou, outra cena diferente?)

Continuação do "1,2,3 bê-á-bá" sobre os P+ em jeito de fim de fase e parêntesis à programação habitual que fechamos amanhã com a terceira e última parte.

Na primeira parte dirigimo-nos para fora, e a propósito de cómicos citámos um excerto que terminava na mais-valia da "autocrítica". Esta intencionámos-la aos cómicos, mas aproveitamos o embalo para falar agora do umbigo: também somos capazes de autocrítica e não impomos aos outros o que nós próprios não faríamos.

Este é-nos um exercício fácil porque já o fizemos vezes sem conta. Está escarrapachado em todo o nosso site quando o leem na transversal: o que são os P+ se não uma autocrítica a que nos impomos por razões de sanidade, sazonada com interlúdios a terceiros por razões de filha-da-putice? Humor e depressão, senhores.

As conclusões -que o corretor ortográfico tentou corrigir para “concussões”, bastard!- de uma leitura enviesada dOS POSITIVOS dependerão tanto das competências dos seus leitores em interpretar os P+ como do que estes intencionalmente ou não transparecem. Ambos abertos ao debate mas o “não intencional” da equação o mais sujeito à interpretação livre da leitura, sendo que a sua bondade ou falta dela ditará os juízos que lhe ocorrem.

Façamos pois este exercício pelo prisma de alguém com má fé ou meramente sem as aptidões necessárias para arranhar além da superfície d’OS POSITIVOS. E o que conclui este?

Que OS POSITIVOS exibem traços muito análogos ao que de pior a web evidencia em termos de comportamentos anti-sociais. Trolls, bullies, narcisistas, sádicos, psicopatas protegidos pelo anonimato. A ofensa exorbitada, a maldade, o ruído, a violência. A importância de magoar os outros e chamar a atenção sobre si. A satisfação pelo acto, a ausência de diálogo. Estamos a falar dos ditos comportamentos anti-sociais mas acaso estivessem a pensar “POSITIVOS” não nos choca.

Mas os P+ não podem assumir essa originalidade, neste aspecto o manto da vulgaridade cobre a todos e não nos destaca, atingiu já o patamar do sintoma cultural identificável inclusive em esferas menos rasteiras que o obscuro fórum geek, alastrando-se ecumenicamente à coletividade. A propósito das transformações visíveis que ocorrem em meios mais respeitáveis -imagine-se entre cómicos no auge da sua puberdade ou ainda frequentados por adultos de mentalidade equiparada- recorda-nos Pacheco Pereira:

"A ideia utópica é que o que se passa “em rede” é uma espécie de diálogo universal em que todos falam com todos, com base num estatuto de igualdade virtual, em que o que dizem tem potencialmente o mesmo valor, é uma utopia e, pior ainda, uma utopia que iguala a ignorância ao saber. É uma utopia boa para os poderosos, porque não se lhes aplica, mas que deixa para o “povo” um simulacro de participação, e interactividade, que é totalmente manipulável. Não é preciso saber, basta estar “conectado”."

Já mencionámos que descobrirmos um estranho prazer em citar Pacheco Pereira nestes últimos anos?

OS POSITIVOS são praticantes, mas não crentes - ainda que a subversão no acto seja confundida na sua prática. Os P+ são realmente anti-sociais mas já o eram pré-web em tecnologia de árvores mortas agrafadas. O seu criador é insuportável, mas é-o in loco e não o deve às permissibilidades das novas tecnologias. Pequenas nuances, insuficientes para anular assunção anterior - pelo contrário, parecem prová-la? – mas suficientes para lhes vacinar alguma imunidade à práxis: mesmo o mais acérrimo denunciador dOS POSITIVOS terá de admitir que estes não podem ser levianamente acusados de cyberbullying, mais que não seja porque historicamente precedem a prática.

Será necessário procurar no perfil do seu criador que se desenha além das suas ferramentas de eleição os traços dessa personalidade destruidora e mesquinha, e novamente a leitura esguelhada dOS POSITIVOS parece sugeri-lo. Mas erroneamente. Por demasiadas razões. A várias camadas. Apesar do método – o freestylin’ inconsciente pen-to-tha-paper - que assumimos e acariciamos n’OS POSITIVOS, separa-nos do trolling a finalidade última dOS POSITIVOS. No consumo externo destinam-se a uma audiência especializada e dessensibilizada por anos de abuso – sorry guys and gals, luv ya all! ya tha best!-, o trollismo/bullismo não se aplica por definição – complicado então. Mais ainda quando OS POSITIVOS se avaliam no plano interno: agradecemos a quem queimar os próximos 10 anos da sua vida a estudar OS POSITIVOS e sobre este produzir duas mil páginas de psicanálise do seu autor, a totalidade dessa literatura dará um excelente book blurb de contra-capa ao nosso próprio livro, o magnos "Sobre as contradições do Eu, e outras cenas - o ensaio para o tratado". Apesar dos automatismos que nos conduzem no desenho e na escrita, este ainda é um processo mediado - recorda-te.

& that gents, be
Tha Life and Opinions of Them POSITIVOS, Punx

Nota: a quem escapa a referência, aqui fica um resumo wikipediano. Bónus: não, não precisam de ler o original, a adaptação em BD foi feita por Martin Rowson.

"The Life and Opinions of Tristram Shandy, Gentleman is a humorous novel by Laurence Sterne. (...) it purports to be a biography of the eponymous character."
in Wikipedia

Porque este? Porque gostamos do nome. E porque "its style is marked by digression, double entendre, and striking graphic devices".

Mais: porque "the novel as a whole (...) focus on the problems of language", particulamente pelo uso de "smiles" ("simile: figure of speech that directly compares two things through the explicit use of connecting words"), - e cruza com o "double entendre" sobre "problemas de linguagem" e percebes porque "smile" cai aqui tão bem se te lembrares de que linguagem nos ocupamos neste espaço.

Mas continua: "has constant regard to John Locke's theories in An Essay Concerning Human Understanding" - neste momento gostava de dizer que não editámos a wikipedia para nosso proveito, simplesmente temos aqui uma obra humorística sobre a pretensa vida do seu protagonista que cruza com ironia construções próprias da linguagem para a desconstruir e o seu sentido simultaneamente tendo como fundo um "ensaio que se ocupa do entendimento humano" por um conhecido autor - um tratado em empirismo ("theory that states that knowledge comes only or primarily from sensory experience") onde se ataca o racionalismo ("any view appealing to reason as a source of knowledge or justification") das ideias inatas ("notions of preexisting ideas present in the mind"), no qual o seu autor "is by turns respectful and satirical of Locke's theories, using the association of ideas to construct characters".

(ó wiki, e ainda é de admirar que a Encyclopedia Britannica já só seja agora wallpaper de escritório...?)

Mais? Claro: "it is one of the central jokes of the novel that he cannot explain anything simply, that he must make explanatory diversions to add context and colour to his tale". Mais? Certo: "Most of the action is concerned with domestic upsets or misunderstandings" hint hint, mas continuando "which find humour in the opposing temperaments of Walter—splenetic, rational, and somewhat sarcastic — and Uncle Toby, who is gentle, uncomplicated, and a lover of his fellow man" - sim, sim, oposição de temperamentos só em duas personagens, aqui fomos muito mais ambiciosos que o Triste Shandy.

Mais? Já que estamos a falar da sua mecânica, na wiki têm ainda uma entrada para "Artistic incorporation and accusations of plagiarism", na qual nos explicam que este "incorporated (...) many passages taken almost word for word from (xxx) and many more, and rearranged them to serve the new meaning intended". Os seus piores detratores acusaram-no aqui "of mindless plagiarism", outros mais generosos viram neste "rearranged what he took to make it more humorous, or more sentimental, or more rhythmical" ainda que não tenham "wondered whether Sterne had any further, more purely artistic, purpose" e poucos ainda compreenderam na altura que "Sterne's copying was far from purely mechanical, and that his rearrangements go far beyond what would be necessary for merely stylistic ends".

Mais? Há uma entrada com o título "Ridiculing solemnity". Precisamos mesmo de explorar demasiado esta entrada para paralelismos? Ficamo-nos pelo primeiro parágrafo: "Sterne was no friend of gravitas, a quality which excited his disgust; Tristram Shandy gave a ludicrous turn to solemn passages from respected authors that it incorporated".

Mais? Também encontram uma secção sobre "Abolitionists" que nos diz que apesar do seu humor e aparente friovilidade o autor da obra que nos ocupa também tinha preocupações sociais: "Sterne's widely publicised 27 July 1766 response to Sancho's letter became an integral part of 18th-century abolitionist literature", e aqui não podemos deixar de recordar que nos P+ temos igualmente inerentes um propósito abolicionista para com outras espécies.

Finalmente mas não por último e não querendo ser demasiado óbvios nas comparações, voltemos ao início: "one of the greatest novels ever written".


OS POSITIVOS: trolls...? Claro, se essas são as tuas referências, yo!

as art